O valor dos ativos de uma empresa com dívidas tende a cair, dependendo da gravidade da situação financeira enfrentada. Para o investidor, os preços mais baixos podem ser sinônimo de oportunidade ou certeza de prejuízo, de acordo com as perspectivas de recuperação do negócio.
A situação vivida pela International Meal Company Alimentação (MEAL3) exemplifica como as empresas endividadas podem trazer retorno financeiro aos investidores quando conseguem contornar a crise. Detentora de marcas como Pizza Hut, Frango Assado e KFC, a companhia sofreu os impactos econômicos da pandemia da Covid-19.
Em 2021, a realidade era um acúmulo de prejuízos financeiros e dificuldades operacionais que somavam uma dívida superior a R$ 700 milhões, conforme informações divulgadas ao mercado. Isso afetou diretamente o desempenho das ações na bolsa de valores: os ativos passaram por um processo de desvalorização.
No ano passado, a companhia realizou mudanças na gestão e manteve os planos de abertura de novas lojas. Paralelamente aos ajustes internos, o aumento da cobertura vacinal contra a Covid-19 e a retomada das atividades econômicas contribuíram para o processo de superação da crise.
Em setembro de 2022, a dívida líquida da International Meal Company Alimentação havia reduzido para, aproximadamente, R$ 290 milhões. As ações voltaram a subir na bolsa de valores, trazendo lucro para os investidores que adquiriram os papéis no momento de queda dos preços.
No entanto, o que vem acontecendo com a companhia não é regra. Por isso, a orientação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) é que antes de comprar ações de uma empresa, os investidores busquem saber sobre a saúde financeira, através dos relatórios de desempenho e as projeções para curto e médio prazo.
As informações estão disponíveis para consulta nos sites da Bolsa de Valores (B3) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade responsável pela regulação e fiscalização do mercado.
B3 tem 17 empresas em recuperação judicial
A B3 iniciou o ano de 2023 com um total de 17 empresas em processo de recuperação judicial, o que significa que elas estão em fase de negociação junto aos credores a fim de reestruturar a situação financeira e evitar a falência. Nessa condição, os ativos das companhias tendem a sofrer com a desvalorização.
O caso mais recente que ganhou destaque midiático foi da Americanas (AMER3). Em janeiro, a varejista entrou com o pedido de recuperação judicial após declarar uma dívida de R$ 43 bilhões. Antes do comunicado, as ações da empresa eram cotadas em R$ 12. Em meio à crise, chegaram a R$ 1,04.
As outras empresas listadas na B3 que estão em processo de recuperação judicial são Atmasa (ATMP3), Bardella (BDLL3 e BDLL4), Eternit (ETER3), Pomifrutas (FRTA3), Hotéis Othon (HOOT4), IGB (IGBR3), João Fortes (JFEN3), Livraria Saraiva (SLED3 e SLED4), Lupatech (LUPA3), Nexpe (NEXP3), Oi (OIBR3 e OIBR4), Paranapanema (PMAM3), Pet Manguinhos (RPMG3), Renova (RNEW11, RNEW3 e RNEW4), Rossi Residencial (RSID3) e Teka (TEKA3 e TEKA4).
Vale a pena investir?
Como as ações de uma empresa endividada tendem a ficar mais baratas, o investimento nos papéis pode representar uma oportunidade de obter retorno financeiro, caso haja a perspectiva positiva de superação da crise e posterior valorização dos ativos.
No entanto, a CVM alerta que é uma situação que confere maior risco ao investidor, pois as empresas podem ter dificuldades para cumprir as obrigações e há mais chances de inadimplência.
A orientação da CVM é para que os investidores realizem uma análise criteriosa sobre a situação financeira da empresa, considerando a capacidade de gerar receitas e fluxo de caixa, o nível do endividamento e as perspectivas do mercado. Outra recomendação é diversificar a carteira de investimentos para evitar que todo o patrimônio esteja exposto aos riscos de um único ativo.
Com relação às empresas, a CVM exige que elas forneçam informações claras e precisas para que investidores e interessados possam tomar decisões seguras e embasadas.