O discurso sobre padrões hegemônicos de gênero ressoa há décadas entre os grupos minoritários, e a moda, de certa maneira, teve a sua contribuição na evolução do debate. Basta lembrar dos usuais termos unissex e andrógeno para classificar roupas e estilos passíveis de serem utilizados por mulheres e homens. Agora, na proporção dos avanços nos estudos e discussões sobre identidade, a indústria fashion também se transforma.
A moda agênero surge com forte apelo à liberdade de as pessoas não serem definidas, pura e simplesmente, pelo padrão normativo construído na sociedade. Por isso, é comum encontrar definições que a relacionam como sendo a “moda para humanos”, pois rompe as estruturas criadas pela cisgeneridade e cria peças para serem usadas por qualquer indivíduo.
Ageneridade
Partindo do princípio que a moda é cultural, faz sentido o estilo agênero ser um dos representantes do futuro do setor. Afinal, assume uma posição de ferramenta política das mudanças na percepção e pluralidade nas vivências das identidades de gênero. Além disso, ajuda a reduzir o machismo estrutural e, consequentemente, combater a homofobia, misoginia e transfobia.
Enquanto identidade de gênero, a ageneridade reúne todos(as) que não se identificam com nenhum dos gêneros. Mas, no universo fashion, como a própria leitura do conceito induz, as produções são voltadas tanto para o público agênero como para os cisgêneros, transgêneros e demais identidades.
Uma publicação feita pela ONG Instituto by Brasil (IBB) evidencia que a disrupção com estereótipos femininos e masculinos advém de um esforço antigo, iniciado na década de 1920, com a renomada Coco Chanel. A estilista explorou a fluidez dos gêneros ao mostrar que mulheres poderiam usar peças, até então, utilizadas exclusivamente por homens, como no caso da calça pantalona, tradicional entre marinheiros.
Moda para pessoas
O rompimento com a leitura binária dos gêneros ainda está em curso, portanto a vestimenta desempenha uma função educativa e, logo, essencial para reverter estigmas limitantes que não dialogam com as modificações culturais. Homens cis e transgêneros, por exemplo, cada vez mais se permitem experimentar saias e vestidos, que, tradicionalmente, estavam relacionados à performance de feminilidade.
Embora o fenômeno seja mundial, não se deve resumir a moda agênero a “meninos” com saias ou usando rosa e “meninas” vestindo azul. A premissa é que forma, tamanho, cor e função das roupas sejam subvertidos e ressignificados, de acordo com a personalidade de cada ser humano. Do look colorido, com wide leg e cropped, até produções conservadoras, com ternos oversized em tom neutro, o objetivo é garantir a liberdade individual e coletiva.